quarta-feira, 29 de abril de 2009

a cozinha



Todos os pratos voltaram para a cozinha vazios. A única nota destoante do jantar foram os vinhos do Paulo. Paulo trabalhava para Pedro, que estava quebrado. Segundo Samuel, a regra numa situação assim é os vinhos dos empregados piorarem à medida que os do patrão melhoram, pois o patrão passa a gastar mais em supérfluos, para se consolar, do que com a empresa falida e seus empregados. *

repare-se na pertinência do post, gente em crise, empresários falidos, lay-offs entre duas garfadas, vinho. por esta cozinha já passou algum, de variadas estirpes, uns de bordéus acamados numa mala de viagem, outros da herdade da comporta, néctar que não envergonha, que até é alma das festas e não custa mais do que uma gorjeta no gambrinus, estabelecimento que tanta falta faz ao pulido valente no 1º de maio, a desfaçatez desta gente, que até cerra portas no dia do "putativo" trabalhador. e também há os vinhos do minipreço, aqui tão perto, o de santa marta, promessa de benção e de prateleiras compostas, está provado que até o titubeante alandra que lá se vende por menos de dois euros não envergonha as papilas neo-realistas que todos temos quando olhamos para o saldo bancário, tem dias. aqui já se cozinharam iguarias de toda a maneira e feitio e paladar, graças ao contributo de vários estabelecimentos, o minipreço não tem o exclusivo, ali ao campo mártires da pátria há um pingo doce, embora a gente se tenha habituado ao das picoas, são gostos, sem contar com as bizarrias trazidas do supermercado chinês na rua da madalena, e asseguro-vos, os produtos do super cantonês são das coisas menos estranhas que se encontram por aquelas bandas ao sábado de manhã. vale bem a pena o passeio a pé.





* in Veríssimo, Luis Fernando, O Clube dos Anjos, ed. Dom Quixote