quarta-feira, 29 de abril de 2009

o + 1 do T1 + 1

Arranjei o covil e parece que me saí bem. Do exterior vê-se apenas um grande buraco, mas na realidade esse buraco não conduz a parte nenhuma. Alguns passos andados, esbarra-se com um enorme bloco de pedra que a Natureza ali colocou. *

diz o povo que tudo o que é pequeno tem graça menos o pão e o dinheiro, esqueceu-se, o povo, de juntar outros elementos, há gente para quem o tamanho conta, não apenas o desempenho, a disponibilidade, as possibilidades de arrumação, que é o que acontece com estas casas planeadas de forma a termos uma escapatória para os tesouros (vulgo tralha) que queremos manter afastados dos olhos e das joelhadas inoportunas. Esta casa que vos fala tem um desses espaços prodigiosos, alcunhado entre amigos como o quarto do kafka, onde pode viver perfeitamente uma terceira pessoa, sobretudo se estivermos a falar de uma criança, criada num ambiente sem janelas e enfiada numa gaveta de griffe ikea. É possível, dizem os mal-intencionados que tal criança sofresse de graves psicoses em crescendo neste ambiente ao longo dos anos mas assim como assim a nossa terra está cheia de gente desaparafusada que cresceu em beliches ou mesmo em quartos só para si. Nada é garantido, portanto, a não ser uma área franca que dá muito, muito jeito. Mais. Devidamente blindado e apelidado de anexo este é um espaço de fazer inveja a qualquer austríaco que se preze. É só querer.





* in Kafka, Franz, O Covil, ed. Europa-América, tradução de João Gaspar Simões